Gente, muito sinistro. Tipo, na última vez que eu parei pra escrever, eu estava mega bem. Isso foi há dois dias... sábado à noite, por volta de 8h, mais ou menos. Quando deu meia-noite, meu marido chegou em casa e veio fazer assepsia no corte da cirurgia... e a surpresa! Estava sangrando. Eu até tinha sentindo umas "pinicadas" a mais e diferentes das que eu já estava habituada até então, mas nem pensei que pudesse estar sangrando. 9 dias depois da cirurgia e a cicatriz estava tão sequinha... nunca me passou pela cabeça que sangraria naquele momento. E olha que eu estou realmente guardando resguardo. Nunca fui tão obediente. Nunca! Eu liguei pro médico no domingo de manhã e ele nos tranquilizou dizendo que estava dentro da normalidade. Me acalmei. Trocamos o curativo, limpamos a área conforme as orientações médicas e eu passei o domingo tranquila, fazendo ainda mais repouso do que no restante da semana, quando cheguei em casa. Sequinha a cicatriz. Que bom! Até hoje de manhã!
No sábado não chegava a ser sangue. Era aquela aguinha que escorre de pequenos machucados. Mas a de hoje não. Hoje de manhã era sangue... daquele tipo grossinho, com cheiro ruim de ferrugem... e melado...
E a pior parte - posso falar aqui porque sei que ninguém vai falar nada... afinal, essa é viagem solitária - está doendo! Doendo, não muito, mas diferente do primeiro dia, dos primeiros instantes... Diferente a ponto de dar medo! Diferente a ponto de pensamentos ruins começarem a povoar uma área perigosa na cabeça...
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Mas vamos pular essa parte! Vamos continuar falando da cirurgia. Afinal, isso é um "diário de bordo de minha histerectomia". Minha saga de sofrimento causado por um mioma até a extirpação de um órgão tão importante e precioso para a maioria das mulheres.
Entendam: eu já estava preparada para esta cirurgia a minha vida inteira. Desde os quinze anos, pra ser mais precisa. Uma palestra, de um médico famoso da região onde eu então estava morando (interior de São Paulo), sobre sexualidade, DSTs, controle de natalidade, e blablablá... Ele dizia que o útero só serve pra 3 coisas: eliminar sangue (menstruar), gerar filhos e ficar doente com câncer, miomas e afins... E que ele sempre recomendava às suas pacientes a extirpação do mesmo, em vez de uma simples laqueadura...
Pra quem tinha verdadeira raiva de menstruação, eu sempre concordei com os argumentos do médico. E, como eu disse, estava preparada a minha vida inteira para a tal. Só nunca imaginei que a faria por obrigação, por conta de um mioma tão pequeno, mas com um poder destrutivo tão grande...
Aí, a banda toca outro enredo...!
A vida muda seus clamores...!
E ganha outros valores!
Suas certezas começam a dar lugar a um monte de pensamentos que você nem sonhava que passariam pela sua cabeça algum dia, menos que fariam (r)evoluções por lá.
Fica tudo uma bagunça.
Você não vê problema, porque sabe o que quer! Já teve filhos. Não quer mais. Odeia com todas as forças menstruar. Odeia mais ainda a condição em que o mioma te deixou. Odeia o mioma. Cirurgia.
E ela aconteceu!
Então. Depois de acordar (realmente, porque antes eu não lembro), a língua falava enrolado, sem forças. Já não era mais minha cunhada quem estava na sala e eu não sabia se ela esteve mesmo ou se eu tinha sonhado. Depois fiquei sabendo que não foi sonho.
A noite foi tranquila, dentro da intranquilidade do despertar e voltar a dormir que anestesias provocam, principalmente quando te dão "baba" de Morfeu na veia, como tranquilizante... E só não foi melhor porque eu ainda estava com fome e meu estômago não me deixou esquecer nem um minuto sequer, nas vezes que eu acordava.
Na manhã seguinte, meu médico vem me ver. E começou a falar coisas como se eu já soubesse o que ele estava falando (afinal, eu estava acordada conversando com ele e com minha cunhada na noite anterior, quando sai da sala de cirurgia). Meus olhos passeavam entre o olhar dele e o de meu marido, que estava comigo no quarto. Perdidos. Sem saber do que se tratava...
Quando ele saiu, eu olhei bem inquisidora pra ele. E a surpresa! "- Ele teve que tirar seu ovário esquerdo também...!"
Como assim? O combinado era só o útero. Eu fiz a ultra e ela diagnosticou apenas isso. Meus ovários estavam limpinhos, foi o que a médica da ultra me disse...
Não, não estava. Não o esquerdo. Tinha um tumor enorme, maior que o próprio ovário. Foi retirado junto com meu ovário e encaminhado pra biópsia. (Ainda estou aguardando o resultado da tal.)
O que era pra ser uma cirurgia de 40 a 50 minutos, duraram longas três hora e meia. Mas eu nem percebi. Morfeu cuidou bem de mim enquanto eu andava por suas terras. Só não me trouxe sonhos. Nem bons nem ruins. Não me fizeram falta. Como boa pisciana que sou, já sonho demais, até acordada.
Então, chega a enfermeira pra me retirar daquele suplício: soro e sonda.
Mas ela também é algoz da pior parte: se levantar...
Tenta isso depois de uma Raqui... depois de ficar pelo menos, doze horas deitada sem poder se movimentar direito... depois você me diz se é mole ou não.
E eu, até então, estava me sentindo. 3 cesáreas. Sou quase profissional nesse assunto de cirurgia, principalmente com raquis e peridurais. Vou tirar de letra....................
Bobona eu! Vai mesmo! Vai pensando que é a mesma coisa...
"É, moleque. Rapadura é doce, mas não é mole não."
Foi muito difícil levantar. E mais ainda andar. Depois ir pro chuveiro, tomar banho sobre um par de pernas que ainda não se lembraram que te pertencem, nem o que têm que fazer. Vai se achando... "Tomou na cara", como dizem meus alunos. Vai mesmo sem humildade pra ver quem te derruba: teu orgulho.
Mas, como eu também já disse, eu tenho um Deus que é supremo demais, que é maravilhoso demais e que nunca me desampara, mesmo eu sendo uma filha tão cretina. Eu consegui. Tomei meu banho. Voltei pra cama. A enfermeira fez a assepsia e os curativos. E... meu café da manhã. Meu merecido e tão esperado café da manhã! Pronto! Voltei a ser gente.
E os dois dias que se passaram no hospital correram tranquilamente.
E eu recebi alta no sábado de manhã.
E vim pra casa de carona com meu irmão.
Bom, agora eu vou deixar o resto pra depois... minha saga pra chegar na minha casa... com 16 degraus à minha frente.
Até lá!